"Persistence as the millennium transitions"

Judite dos Santos

Persistence as the millennium transitions

Judite dos Santos, Untitled, 1998-2018, vista da exposição no projeto rightcloud@wrongweather

ENG

"Persistence as the millennium transitions"

Judite dos Santos

13 June - 29 September

Curated by Miguel von Haffe Pérez

Inauguration 

13 June - 18:00

 

Judite dos Santos is a Portuguese artist residing and living in New York City.  Her work has been exhibited in various NY museums (Whitney Museum, New Museum, Bronx Museum and PS1), and in Portugal, she has exhibited at Fundação Calouste Gulbenkian and Portuguese Center of Photography.

Following on the intent of the project right cloud@wrong weather of giving visibility to less known works by established artists and emerging artists, Judite dos Santos proposal fits under the first premise, as she returns to two series of iconic works within her consistent journey: Executives and Prisoners.

The re-edition proposed for the present exhibition, shows three panels of the Executives exhibited originally in 1988 at Intar Gallery in New York City, which was followed by an exhibition in 1989 at the Gulbenkian Foundation-C.A.M.  To an image appropriated from an American company annual report of a group of four men posing in an institutional style, the artist added a black line/blindfold like, intending to block any visual contact to occur from the figures, thus referring to the process of lack of social identification, alienation and corporate blindness.

From the Prisoners series, shown for the first time at the Bronx Museum in 1995, an image of Alejandrina Torres was chosen. Alejandrina, a Puerto Rican activist was condemned in 1983 to a thirty-five year prison sentence (a sentence which was commuted in 1999 by President Bill Clinton). In the image exhibited here, we see the prisoner who, for two years, was incarcerated in isolation in a maximum security unit existent in a prison's basement.  The yearning look is toward an imagined outdoors, so vital in its possibilities as a fragile wire maintaining her connection to the essence of any mental sanity.

The installation now presented, is generically titled Untitled, 1988-2018 by the artist, and includes one stone that was searched/found during the present installation process in one of the beaches in Porto.  This stone becomes a point of escape between the material greed suggested in those somber individuals and the hope of the world outdoors in a prisoners' mind.

The temporal arch that runs through the last thirty years and that crosses the millennium transition is sad, and there is an expected realization of a dubious trace left by democracies such as the American, which often reaffirms its darkest side: this is a country with the largest prison population in the world. It continues to be the country where the supremacy of white men occupying vital sectors of society self-perpetuates at a surprising level, despite an activist and politically influent feminism that exists for over five decades.

In this exhibition by Judite dos Santos, there is no intention of pointing fingers towards any one country or any political system.  It is however, about the manner in which art obliges us to reflect over specific representational political and social contexts, which exist as an undefined geometry, where time and space collapse in order to affirm the pillars of a mode of seeing what surrounds us with a more profound critical sense. When we look at this exhibition, we perceive the persistence of our present reality in yesterday's vision. Or, shall we say we are confronted with the necessity of understanding memory as an exercise of proactive thinking, as we face images and events.

Nothing is more abject in present society than deliberate ignorance or negative revisionism.  That art might be an instrument of combat to this misery is what is being affirmed.

Miguel von Hafe Pérez

 

PT

"Persistências na transição do milénio"

Judite dos Santos

13 Junho - 29 Setembro 

Curadoria Miguel von Hafe Pérez

Inauguração 

13 Junho - 18:00

Judite dos Santos é uma artista portuguesa que reside e trabalha em Nova Iorque. O seu trabalho já foi exposto em vários museus dessa cidade (no Whitney Museum, no New Museum, no Bronx Museum e no P.S.1) e em Portugal na Fundação Calouste Gulbenkian e no Centro Português de Fotografia.

No seguimento da visibilidade que o projeto right cloud@wrong weather pretende dar a obras menos conhecidas de artistas consagrados ou a artistas emergentes, a proposta de Judite dos Santos encaixa-se na primeira premissa, ao retomar duas séries de trabalhos icónicas no seu consistente percurso: Executivos e Prisioneiros.

A reedição agora proposta para a presente exposição apresenta um painel dos Executivos apresentado pela primeira vez em 1988 na Intar Gallery em Nova Iorque e seguidamente em 1989 no C.A.M. da Gulbenkian: a um grupo de quatro homens em pose institucional (apropriados de um relatório de contas de uma grande empresa americana) a artista acrescenta um traço-venda, obliterando qualquer tipo de contacto visual e assim sublinhando um processo de desidentificação associável à cegueira corporativa.

Da série Prisioneiros, apresentada pela primeira vez no Bronx Museum em 1995, escolheu-se a imagem de Alejandrina Torres, ativista porto-riquenha que foi condenada em 1983 a trinta e cinco anos de prisão (a pena foi comutada em 1999 pelo presidente Bill Clinton). Na imagem vê-se a prisioneira que passou dois anos numa unidade de alta segurança em isolamento num porão. A aspiração do olhar é a de um exterior imaginado e tão vital na sua possibilidade quanto o ténue fio de manutenção de qualquer tipo de sanidade mental.

Na instalação agora dada a ver, que a artista genericamente intitula Sem título, 1988-2018, dispõe-se ainda uma pedra que foi recolhida durante o processo de montagem atual numa praia da cidade. Ponto de fuga possível entre a cobiça material pressentida naqueles personagens sombrios e a esperança de um exterior na mente de um encarcerado.

No arco temporal que percorre estes últimos trinta anos e que atravessa a transição milenar é triste e esperada a constatação do lastro asqueroso que democracias como a americana se dedicam a confirmar no seu lado mais negro: este é o país com a maior taxa de população carcerária do mundo. E este continua a ser o país onde a supremacia dos homens brancos nos setores vitais da sociedade se perpetua de modo surpreendente, apesar de mais de cinco décadas de um feminismo ativista e politicamente influente, apesar de tudo.

Não se trata, nesta exposição da Judite dos Santos, de apontar o dedo a um país ou a um sistema político. Trata-se sim, de olhar para o modo como a arte nos obriga a refletir sobre determinados contextos políticos, sociais e representacionais numa geometria indefinida onde tempo e espaço colapsam para se afirmarem como pilares de um modo de olhar o que nos rodeia com um sentido mais crítico. Ao olhar esta instalação percebemos a persistência da atualidade do ontem, ou seja, confrontamo-nos com a necessidade de entender a memória como exercício de pensamento proactivo perante as imagens e os acontecimentos. Nada é mais abjeto na sociedade atual que a ignorância deliberada ou a negação revisionista. Que a arte possa ser um instrumento de combate a estes flagelos é o que aqui se afirma.